26.12.07

SUMMIT FOI UMA OPORTUNIDADE TREMENDA DE CRESCIMENTO E DE SERVIÇO PARA OS ALUNOS DO STB


EUROPA – UM ESPAÇO DE PAZ - O perdão na reconstrução da Europa!


Nas famílias, nas igrejas, no trabalho, no país e nas regiões críticas do mundo, não haverá verdadeira paz sem perdão.

A Presidência Portuguesa da União Europeia no segundo semestre de 2007 foi marcada pelo acordo entre os 27 Estados-Membros, conhecido por Tratado de Lisboa. Deixaremos de falar em Comunidades Europeias porque passamos a ser a União Europeia, uma entidade dotada de personalidade jurídica.
Como a Europa mudou nos últimos anos! Há vinte anos separava-nos a Cortina de Ferro, bem simbolizada pelo Muro de Berlim que dividia a própria Alemanha. A União Europeia pretende assentar no respeito pelos direitos humanos, a liberdade, a democracia, a igualdade e o Estado de Direito.
Como se passa de uma Europa fragmentada por regimes opressores para democracias? Como se curam ódios entre povos? Muito para além da economia, a nova Europa está a ser construída por vivências redentoras, que derrubam muros e restauram comunhão. A história da família Holmer, na Alemanha, é um desses exemplos: a reconstrução da sociedade de hoje também passa pela capacidade de perdoar.
Quando no final dos anos oitenta se deu o colapso do regime comunista na Alemanha de Leste e o muro de Berlim caiu, o próprio presidente do país, Erich Honecker, e sua esposa Margot, outrora bem guardados no seu luxuoso palácio presidencial, ficaram sem amigos, sem recursos e sem sítio para viver, literalmente na rua. Depois de tratamentos hospitalares o casal foi recusado pelos próprios poderes políticos. Honecker pediu a ajuda da Igreja Luterana e o pedido chegou a um Lar cristão, para doentes mentais, em Lobetal, perto de Berlim, então dirigido pelo pastor Uwe Holmer e sua esposa. O ex-presidente da Alemanha de Leste e a sua esposa, que fora Ministra da Educação durante 26 anos, promotores do ateísmo, solicitavam agora abrigo a um Lar cristão.
Durante a sua vida, o casal Holmer tinha sofrido quarenta longos anos, sob a opressão de um regime político que promovia o ateísmo e pressionava a igreja. O pastor Holmer descreve a sua experiência de jovem, estudante de teologia, sob o regime comunista: "Mesmo nós, os estudantes de teologia, tínhamos que estudar Marxismo-Leninismo nos nossos primeiros semestres. Sentados num amplo anfiteatro, juntamente com estudantes de outras faculdades, o professor explicava-nos a transformação social que decorria na República Democrática Alemã. Para ele a exploração do homem pelo homem tinha sido finalmente ultrapassada porque os meios de produção pertenciam ao povo. O socialismo estava a ser construído e tinha-nos oferecido perspectivas sociais e económicas inesperadas. E quando o socialismo chegasse à maturidade e desenvolvimento absolutos, levaria a um salto radical para um novo estágio mais elevado, o estágio final de desenvolvimento: comunismo. Então, não haveria mais justificação para salários. Toda a gente receberia aquilo de que tinha necessidade. Ninguém quereria ter mais do que os outros, e uma paz maravilhosa reinaria entre a humanidade. O professor fazia uma pausa e então gritava: ´E então construiremos o céu na terra!´ Nova pausa e novo grito: ´E então a igreja morrerá de morte natural, porque se as pessoas experimentam o céu aqui na terra, não irão procurar qualquer outro céu." 1
E o pastor Holmer recorda o seu estado de espírito, em tal contexto, como estudante que se preparava para o ministério pastoral: "O nosso pequeno grupo de estudantes de teologia, ali sentados naquele amplo anfiteatro, sentíamos como se todos os olhos se virassem para nós e pensassem: ´Vocês, pobres teólogos, que miseráveis perspectivas vos estão a dar! Valerá mesmo a pena envolverem-se no ministério da igreja numa altura destas?´ Recordo-me, até aos dias de hoje, de me sentar ali e orar: ´Senhor, apesar de tudo isto, eu creio que Tu tens a vitória e que as portas do inferno não vencerão a Tua igreja."2
E foi num clima como este que o casal Holmer viveu 40 anos na sua terra. Num ambiente de confronto, sempre sob a ameaça de que o partido usasse meios violentos contra a igreja. O casal sofreu opressão e ameaça de prisão. "Eu nunca sabia se o partido comunista um dia recorreria à violência para tentar acabar com a igreja, mas mesmo assim, eu agradecia a Deus por poder ser um mensageiro da paz no meio dum país de ateísmo de confrontação." -- partilha o pastor.3
Mas agora, o líder daqueles que haviam predito o fim da igreja e a instalação do céu na terra, vinha pedir abrigo num Lar da igreja, para doentes. A primeira reacção do pessoal do Lar foi a de recusa. Mas... como poderiam eles continuar a orar "como nós perdoámos aos que nos ofenderam" se rejeitavam perdão e abrigo ao casal Honecker? Depois de uma longa conversa, e luta interior, a comunidade do Lar decidiu receber o casal. Ali passaram 10 semanas, de Janeiro a Abril de 1990. O Lar recebeu cerca de 3.000 cartas, metade de apoio e metade de censura. Porque não havia lugar disponível no alojamento do Lar, o casal passou todo este tempo no apartamento do casal Holmer. Exactamente, nas palavras do pastor Holmer: "Tínhamos a viver no nosso apartamento o homem e a mulher que tinham sido responsáveis pelo facto dos nossos filhos não serem aceites no ensino superior. Tínhamos experimentado outros tipos de opressão e mesmo ameaças de prisão. Mas agora, era preciso dar-lhes protecção, segurança e mesmo amor. Não podemos fazer isto se o nosso espírito estiver cheio de inimizade. Assim, o meu desejo era que este período de 10 semanas, com os Honecker como hóspedes, não só os ajudasse mas se tornasse num símbolo para os nossos opositores políticos, e que este símbolo fosse entendido por muitas pessoas na nossa nação." 4
Dezassete anos antes, os filhos mais velhos do casal Holmer, apesar de terem excelente aproveitamento, tinham sido impedidos de prosseguir estudos por se recusarem a participar numa cerimónia de natureza ateísta "Jugendweihe", se recusarem a cantar alguns versos da "Internacional", e se recusarem a participar na prática de tiro pré-militar. Holmer explica: "Nessa altura, escrevi para a Universidade, para as autoridades oficiais e para os líderes do partido e deixei o assunto com o Senhor. Disse a mim mesmo: ´Já esperavas que isto acontecesse à tua família quando conscientemente decidiste ficar na Alemanha de Leste, enquanto os teus pais, irmãos e irmãs fugiram para o Ocidente. Ficaste aqui por amor ao Evangelho. Aquilo que te está a acontecer não é nada fora do normal, nada ´estranho´ como diz o apóstolo Pedro. Isto é apenas parte do sofrimento por amor de Cristo que cada crente deverá sofrer de alguma forma´. Mais tarde, eu estava grato por não ter levado o rancor às costas durante estes 17 anos. Em vez disso, pude lançá-lo fora. De contrário, a nossa família teria transportado um fardo muito pesado! Em última análise, o facto de podermos ter recebido os Honecker sem grandes batalhas interiores resultou do facto de tanto eu como a minha esposa nos termos convertido, quando tínhamos 19 anos, e experimentado o perdão de Deus por todos os nossos pecados. Uma pessoa que vive do perdão de Deus, dia a dia, também pode perdoar os outros... Se uma pessoa não experimentou o perdão dos seus próprios pecados é difícil, ou mesmo impossível, para ela, perdoar aqueles que lhe causaram tanto mal." 5
E foi assim que o casal Holmer pôde viver com o casal Honecker sob o mesmo tecto, tomar as refeições à mesma mesa, dar graças a Deus pelo pão de cada dia, falar livremente. Mais tarde, era a própria senhora Honecker que preparava refeições leves para o marido, dado o seu precário estado de saúde. Ao cair da noite, o casal e o pastor faziam caminhadas ao redor do lago da vila. Conversas... longas conversas. De facto, os casais tornaram-se amigos. "Não é possível viver juntos debaixo do mesmo tecto, durante 10 semanas, sem desenvolver uma preocupação pessoal pelo outro. Pelo menos, é algo que nós crentes em Cristo não podemos fazer, porque podemos lançar fora tudo aquilo que se interpôs entre nós e os nossos companheiros e agora estamos livres para nos relacionarmos com eles, especialmente se eles se encontram em necessidade. Foi esta a nossa experiência com os Honecker."6
Mais tarde o casal Honecker deixou o Lar da igreja para o marido receber tratamento médico no hospital. Posteriormente, o casal Holmer visitou Honecker na prisão em Berlim, então gravemente doente. Foi aqui que Honecker confessou ao pastor Holmer: "Em breve virá o tempo quando devo deixar esta terra." E as palavras, quase finais, do pastor Holmer ao seu amigo Honecker: "... não se trata do fim... a vida continua... podemos continuar em paz com Deus se aceitarmos o perdão de Jesus."7
E este homem, que na sua juventude decidiu ficar no seu país, apesar das circunstâncias adversas, por amor de Cristo, interpreta assim a história que, pela graça de Deus, a sua família protagonizou neste país dilacerado. "Nesta experiência, eu compreendi que o perdão não é crucial quando acontecem pequenas coisas e é fácil perdoar. O perdão é particularmente crucial quando está envolvida culpa muito séria. Foi isto que me levou de volta à importância das palavras que Jesus disse para todos nós, não apenas tendo em vista os nossos opositores políticos: se não perdoarem aos outros, o vosso Pai também lhes não perdoará a vocês.´ (Mat. 6:15).
Na nossa família, na nossa igreja, na nossa nação, e nas regiões críticas do mundo, não haverá verdadeira paz sem perdão. A mensagem de perdão através da Cruz de Cristo, de paz com Deus e de paz com os outros, nunca foi tão relevante como é hoje. É por isso que a palavra da Escritura se aplica a nós: "Como são belos... os pés dos que trazem as felizes notícias de paz e salvação, as boas novas, dizendo a Sião: O teu Deus reina!" (Isaías 52-7 - O Livro)8
A prática do perdão, ilustrada na vida do casal Holmer, é um exemplo da integração da fé nas nossas vivências tangíveis. O Evangelho vivido nos complexos meandros da dilacerada sociedade de hoje, com a frescura das palavras de Cristo: "Não oponham violência à violência! Se te derem uma bofetada numa das faces, oferece também a outra." (Mateus 5:39 - O Livro)

-- Fernando Ascenso
1 Uwe Holmer, "The Pastor and the Communist Leader," em The Mission of an Evangelist (Minneapolis: World Wide Publications, 2001), 246
2 Holmer, 245, 246; 3 Holmer, 247; 4 Holmer, 246, 247; 5 Holmer, 247; 6 Holmer, 248; 7 Holmer, 248; 8 Holmer, 249.
"The Mission of an Evangelist" é uma publicação da Billy Graham Evangelistic Association que reúne todas as comunicações realizadas durante a Conferência Amsterdam 2000. Citação autorizada. © 2001 Billy Graham Evangelistic Association



Questões para Estudo Pessoal ou em Grupo


1. Identifique a fases da vida de Holmer em que a sua fé o confrontaram claramente com a sociedade. Explique o dilema em cada uma delas.

2. Identifique vários domínios da vida de Holmer e do casal onde terão surgido
duros problemas ao longo da vida face ao contexto do regime comunista.
Que feito prático teve a fé em Cristo?

Não acha que teria sido mais sábio Holmer ter saído da Alemanha de Leste
durante a sua formação e treinar-se entre os cristãos do Ocidente? Porquê ?

Observe o processo de decisão sobre a recepção do Presidente no lar. Quais foram os princípios de fé envolvidos nas várias posições?

Procure identificar várias consequências da fé em Cristo na vida da família Holmer.

Que relação acha que pode encontrar entre esta história e os desafios da nossa vida diária?

Textos bíblicos sugeridos para estudo sobre o tema

Mateus 5:38-48; 18:15-22 e 23-34; Marcos 11:26, Romanos 12:9-21; I Coríntios 13