30.11.05

Educação Teológica: Preparando Líderes-Servos para Discipular as Nações



Introdução
Se perguntarmos a cada Igreja e a cada líder, o que pensa da Educação Teológica, cada um dos inquiridos trará uma perspectiva certamente diversificada sobre a importância deste ministério e os valores que devem caracterizar a forma como preparamos líderes-servos.

Para quem está em início de ministério e desejando querer fazer o melhor para honrar a Deus, são muitas as perguntas e as inquietações. Como formar líderes-servos num continente europeu marcado por um profundo declínio espiritual e onde a Igreja de Jesus Cristo parece ser cada vez mais irrelevante para o cidadão europeu comum, pós-cristão e pós-moderno ?

Numa pequena busca na internet somos confrontados com muitos pensamentos sobre o que discorrem os líderes de escolas bíblicas acerca do "como" da educação teológica.

Educação Teológica: O que se diz por aí…

As "casas de profetas" do século XXI estarão mais próximas do cumprimento do maior de todos os seus propósitos: preparar homens e mulheres para servir o reino de Deus na perspectiva da missão integral, capacitando-os a serem imitadores daquele que, sendo o supremo exemplo do pastoreio, continua a dizer em tom solene mas imperativo aos que são vocacionados: "pastoreai as minhas ovelhas".
Wander de Lara Proença

A nova realidade teológica trouxe um grande desafio: fazer uma teologia que não seja subjectiva, sectária, hermética e estereotipada e nem puramente académica, teórica, distanciada das igrejas e da realidade social onde o povo exercita a teologia e a fé. É nesta linha ténue que as instituições caminharão.
Edson Martins

Teologia precisa ser vista como um verbo, e não somente um substantivo, para que homens e mulheres sejam treinados adequadamente a fim de exercerem uma liderança servil na igreja. Já é hora da educação teológica caminhar na direcção de um treinamento significativo e positivo, realizando as mudanças que se façam necessárias para que isso aconteça.
Manfred Waldemar Kohl

Educação Teológica não ouve apenas as necessidades da igreja, mas também as necessidades do mundo. Os seminários não treinam mais somente pastores, mas todo o povo de Deus que é vocacionado para o ministério.
Antonio Carlos Barro

Qual a necessidade de se falar em educação teológica e poder? Aparentemente nenhuma, diríamos. Todavia, não podemos nos esquecer que, quando falamos de educação teológica, estamos a referir-nos a um tipo de discurso que muitas vezes se confunde com o poder.
Luiz Alexandre Solano Rossi

A formação espiritual dos estudantes é um dos mais importantes ministérios da escola de teologia. Na verdade, tornar-se como Cristo é o mais elevado alvo da vida cristã. Educadores teológicos devem estar cientes dos obstáculos, bem como as experiências educacionais que promovem a formação.
Fritz Deininger e Richard Herring

Muitas pessoas hoje estão dizendo que devíamos substituir a grande ênfase nos estudos bíblicos por uma ênfase mais prática. Penso que a grande necessidade hoje seja de biblistas capazes de aplicar as Escrituras aos desafios da vida e ministério.
Ajith Fernando

A Educação Teológica não se restringirá à formação de pastores, mas também a formação de "ministros" aptos a capacitar a igreja, bem como a formação de quadros especializados para a própria educação teológica.
Júlio Paulo Tavares Zabatiero

É preciso repensar o sistema educacional teológico evangélico através da busca de novos paradigmas e até mesmo redescobri-los na história.
Lourenço Stelio Rega

Educação Teológica: Preparando Líderes-Servos para Discipularem as Nações

Diante de todos os contributos, certamente significativos, para a definição de uma visão mais ampla do papel actual das Escolas Bíblicas, deparamo-nos com a necessidade de definir, diariamente, uma proposta de trabalho que nos ajude e dê rumo ao esforço que procuramos desenvolver entre aqueles que chegam até nós com a expectativa de serem treinados para servir a "Noiva de Cristo."

Ora, é exactamente aí que nos deparamos com algumas dificuldades. É que as igrejas do século vinte e um enfrentam uma crise de identidade. Esta crise de identidade resulta numa incompreensão sobre a finalidade das igrejas como Corpo de Cristo no mundo.

O grande desafio para a igreja de Cristo neste tempo é a redescoberta da sua natureza missionária. A igreja mais do que nunca deve voltar os seus olhos para a Palavra e reencontrar-se com a sua verdadeira essência, isto é, o ser uma igreja voltada para Deus e para o mundo. É que Cristo ordenou à Igreja que "faça discípulos de todas as nações". Mateus 28:19.

Entendemos que os compromissos das comunidades pedagógicas como o STB estão necessariamente ligados aos compromissos da Igreja de Jesus Cristo, detentora do mandato missionário. A agenda de uma comunidade pedagógica tem de estar em sintonia com a agenda das Igrejas de Jesus Cristo. Na igreja e na comunidade pedagógica somos todos aprendizes. Estamos todos a aprender. A aprender o quê? Algo que o Senhor define na Grande Comissão: "ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado."

Os ensinos do Velho e do Novo Testamento integram "toda a vontade de Deus" (Act. 20:27). Essa vontade de Deus está centralizada na pessoa do nosso Senhor Jesus Cristo, na Sua vida e na Sua missão. Então como comunidade pedagógica, somos chamados a aprender para obedecer a Cristo, muito mais do que aprender para saber. Começamos assim a definir mais exactamente a função e o papel determinante da Escola Bíblica em perfeita coordenação com as Igrejas de Jesus Cristo. Queremos ser parte de uma comunidade pedagógica, de pessoas que querem aprender de Cristo, sempre, e para Lhe obedecer.

A definição da agenda, ou da proposta de trabalho de uma escola bíblica, conduz-nos à reflexão do conteúdo do Evangelho que vai para além das reivindicações privadas de uma cultura evangélica e baptista. Esta questão ajuda-nos a pensar como o Evangelho está ou não a afectar as nossas vidas e o nosso povo, primeiramente nas Igrejas e depois no Seminário. Esta definição de proposta de trabalho na educação teológica questiona também o tipo de ministérios que queremos desenvolver como escola, como actuais e futuros líderes de comunidades locais, de organizações, de profissionais no mercado trabalho, no fundo, a nossa relevância para benefício do reino de Deus no nosso contexto cultural. Esta inquirição também pretende questionar se a nossa fé em Cristo é um fermento vivo, e até subversivo, para a transformação da sociedade decaída onde vivemos.

Importa dizer que a Grande Comissão que somos chamados a cumprir como Igrejas de Jesus Cristo, significa um compromisso com o discipulado da nação. No contexto da Grande Comissão de Mateus, isso significa proclamação do Evangelho, fé em Jesus Cristo, baptismo e um estilo de vida consistente com todos os Seus ensinamentos. Neste sentido, "nações", significam pessoas, porque apenas pessoas podem desenvolver uma fé pessoal e serem baptizadas. Agora questionemo-nos: Qual o nosso compromisso quanto ao cumprimento da Grande Comissão?

Realmente, a Grande Comissão foi dada à Igreja. A Igreja é a comunidade escatológica da Aliança. A Igreja tem uma aliança com Deus e deve viver sob o governo de Cristo, o cabeça da Igreja (Ef. 1:22). A Igreja está sob o governo ou reinado de Deus. A Igreja é a ekklesia (assembleia) e basileia (governo ou reino de Deus). Então a Igreja é a comunidade do Reino. É a referência primária das nações e a principal agência do Reino de Deus para discipular as nações. Ora, antes de mais, o Seminário é constituído por alunos pertencentes às Igrejas. Todos os alunos matriculados no STB são recomendados pelas suas igrejas. O STB existe para servir as igrejas com esse mandato missionário. Está à vista a ênfase dos conteúdos programáticos de uma Escola para as igrejas bem como o programa de trabalho ao serviço das igrejas.

Cada aluno do STB tem de adquirir a compreensão de que é parte de uma Igreja que é uma comunidade do Reino e que existe para oferecer esperança às nações. As igrejas são chamadas a sinalizar o Reino de Deus na sociedade. Nas igrejas, logo também no Seminário, os valores do Reino deverão tornar-se visíveis.

Vejamos uma boa descrição do que é hoje o nosso país e o que poderia ser se as igrejas, usadas por Deus, discipulassem esta nação no cumprimento da Grande Comissão.Vamos a Isaías 9:1-7.
O profeta Isaías oferece algumas percepções significativas a respeito do reino, cuja consumação está sendo aguardada como o ápice da humanidade. O capítulo 9 de Isaías começa como acabou o capítulo 8, ou seja, com uma mensagem de uma escuridão melancólica, de desespero e num tom ameaçador. Parece que o julgamento estava prestes a acontecer sobre o reino do Norte. Esta pode ser muito bem a descrição do Portugal que hoje temos.

I. A REALIDADE PRESENTE DAS NAÇÕES – 8:21-9:1
Isaías não imaginava que muitos séculos mais tarde, haveria um pequeno país da Europa, com as mesmas características espirituais: Uma nação, também invadida, não pelos assírios, mas pela pecaminosidade, que se caracteriza por:
Consulta aos mortos, necromantes e adivinhos em vez de consultar a Deus – 8:19
Afastamento da Palavra de Deus – 8:20
Opressão e Fome – 8:21
Amaldiçoam a Deus – 8:21
Angústia, Trevas e Ansiedade – 8:22

Apesar desta situação trágica contada pelo profeta, a boa notícia é que as formas verbais nos versículos 1 a 7 estão no tempo passado indicando que "o futuro está escrito como algo que já aconteceu." O texto, a partir do v.1, apresenta uma esperança como uma realidade presente, parte da constituição do "agora". O Messias real que o texto refere é o "recém nascido rei" de Mateus 2:2, verdadeiramente divino. N’Ele todas as coisas que foram esperadas são encarnadas; ele é o "Escathon". A partir destes versículos de 1 a 7, a visão de uma nação, transformada, discipulada, pelo Reino pode ser visualizada. Diante desta imagem, qual é o nosso desafio como comunidade de aprendizes? Quais são os líderes-servos que gostaríamos de ver a emergir do nosso STB?

II. UMA GERAÇÃO DE LÍDERES-SERVOS COMPROMETIDOS COM O DISCIPULADO DAS NAÇÕES – 9:1-7
Isaías mostra-nos adequadamente, o contraste entre uma nação discipulada e uma nação que não observa as marcas do Reino. O texto fala de Zebulom e Naftali, duas províncias antes despovoadas pelos Assírios, cuja realidade era a "opressão", o "desespero", as "trevas", a "depressão", a "ansiedade", a "aflição", a "rebeldia contra Deus" e o "afastamento da Sua Palavra". No entanto, a glória que aquelas partes da Palestina receberiam seria a glória da presença do Messias, de Jesus Cristo, que, muitos anos mais tarde andaria por ali fazendo o Seu ministério, ao redor do mar da Galiléia. Quando Jesus, o Messias, está entre nós como Emanuel, a nação não é mais a mesma. Nesse caso, o que se espera de uma geração de líderes-servos, neste tempo, comprometida com o discipulado das nações?

Líderes-Servos comprometidos a Levar a Luz de Jesus em meio às Trevas – v.2
A presença de Jesus, o Messias, entre nós, faz dissipar as trevas. Não é a nossa própria luz. Nós somos reflexos da Luz de Jesus. Jesus é a Luz do Mundo conforme João 8:12. O interessante é pensarmos que Ele disse que nós, a igreja, seríamos a Luz do Mundo – Mateus 5:14-16. É na Igreja de Cristo que há esperança de Luz no meio das trevas de uma nação.

Líderes-Servos Comprometidos em Levar Alegria em meio à Depressão – v.3
Quando Jesus está connosco, a nossa alegria não é circunstancial. Jesus mesmo disse: "Tenho-vos dito estas coisas para que o meu gozo esteja em vós, e o vosso gozo seja completo." João 15:11. Um outro texto de Jesus diz: "Assim também agora vós tendes tristeza; mas outra vez vos verei; o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém poderá tirar." João 16:22.

Líderes-Servos Comprometidos em Anunciar Liberdade em meio à Opressão – v.4
Como Gideão derrotou e venceu os Midianitas, a presença do Messias é libertadora. Jesus mesmo disse: "Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." João 8:31-32 . "Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres" João 8:36.

Líderes-Servos Comprometidos em Levar a Paz de Jesus em meio à Ansiedade – v.5 –7
Quando Jesus está presente na nação, Ele é o Príncipe da Paz, uma paz que não é meramente a ausência de guerra, mas prosperidade, bem estar, em vez de ansiedade, tristezas e necessidades. Jesus mesmo disse: "Deixo-vos a minha paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize. " João 14:27

Conclusão
O desejo do nosso coração é ver em cada um dos membros da nossa comunidade pedagógica este compromisso de levar consigo as marcas da presença do Reino e um compromisso sério com o discipulado das nações. Acontecendo assim, isso faria do nosso Portugal, um país completamente diferente. Foi para isso que Jesus encarnou e comissionou a Sua Igreja. O STB tem um contributo determinante enquanto se mantiver fiel à Palavra e aos valores do Reino numa perfeita articulação com as Igrejas a quem foi dado o mandato de discipular as nações. No entanto, saibam todos, que se o não fizermos porque só queremos saber, e não guardar todas as coisas para as cumprir, o zelo do Senhor dos Exércitos fará isto (v.7), na nossa nação, no mundo, connosco, ou sem nós.

Pr. Paulo Pascoal

Director do Seminário Teológico Baptista

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