11.10.05

Texto integral da Aula Magna do Culto de Abertura 2005-2006

Liderança Serva: A Chave da Grandeza Autêntica
Glenn Watson


“Ora, antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que já era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, como havia amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até ao fim. ... Jesus, sabendo que o Pai tinha depositado nas suas mãos todas as coisas, e que havia saído de Deus e ia para Deus, levantou-se da ceia, tirou os vestidos, e, tomando uma toalha, cingiu-se. Depois, deitou água numa bacia, e começou a lavar os pés aos discípulos, e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido. (João 13:1, 3-5)

No clímax do seu ministério com os seus discípulos, num dos momentos finais, sabendo que esta seria a última oportunidade de marcar as vidas daqueles que iriam levar a Sua mensagem para a frente, Jesus podia ter optado por dar um discurso inspirativo—motivá-los a vencer, convencê-los que a vitória era mesmo alcançável. Podia ter dado os últimos conselhos aos seguidores, uma lista de prioridades estratégicas para o futuro do movimento. Podia ter indicado um sucessor na liderança, ou pelo menos definido um processo de sucessão para que nunca houvesse uma questão acerca de quem é que devia ficar à frente dos outros. Mas nenhuma destas coisas Jesus fez. Despiu-se, ajoelhou-se, e lavou os pés dos seus discípulos.

O que mais me incomoda nesta cena é o contraste com o impulso normal dos seguidores de Jesus hoje em dia. Esta lição tão profunda comunicada através de um acto tão simples, aponta para uma igreja que é, na sua essência e na sua prática, uma comunidade de servos, liderada por servos e orientada pelo Espírito de Deus. Em todo o seu ensino sobre o assunto, Jesus só falou da liderança em termos do serviço, do sacrifício e até de morte. Hoje em dia, quando falamos de liderança, a tendência é para falarmos em termos de organogramas, da gestão de recursos, da definição de prioridades e objectivos, da motivação dos seguidores e da coordenação do trabalho. A questão mais urgente é, “quem é o responsável?” É dizer “quem é que manda?” E o que mais queremos evitar é um “vazio de poder,” uma falta de um “líder” reconhecido para “dirigir” a obra. Embora tenhamos aprendido a conviver com o desafio da imagem de Jesus a lavar os pés aos discípulos, a capacidade de seguir mesmo o exemplo de Jesus, geralmente, ainda nos escapa. Conciliamos o padrão de Jesus com a prática do nosso tempo e das nossas igrejas, considerando este acto de Jesus um símbolo, um paradoxo, um “ideal” a manter em mente, mas não muito prático na realidade. Mas a pergunta que nos devia incomodar é, será que Jesus, nesta última noite com os seus discípulos, queria apenas dar-lhes uma imagem bonita de um ideal não alcançável? E se Ele pretendesse mesmo que fôssemos servos?

Como é que chegámos até aqui, ao que somos hoje? Há um ano e meio atrás recebemos aqui o missionário e autor Bill Beckham que nos deu uma análise histórica da situação. Reafirmou que o momento de maior desvio na história do Cristianismo foi na “Síntese de Constantino,” quando o Cristianismo passou do estatuto de “seita fora-da-lei” para o estatuto de “religião oficial.”[1] Naquela altura, a igreja deixou de ser uma comunidade, e passou a ser uma instituição. A organização da igreja passou da simplicidade flexível e adaptável a uma hierarquia paralela á estrutura do império Romano. A função da liderança passou do “pastorear o rebanho” à “gestão da instituição.” Seguiram-se também muitos erros doutrinários acerca da natureza da fé e da salvação. Mas os erros doutrinários foram essencialmente ajustes nas crenças para acomodar a nova natureza institucional e hierárquica da igreja. Na época da Reforma do Século XVI, recuperámos muitas das doutrinas que tinham sido perdidas ou corrompidas ao longo dos séculos, mas, em grande medida, mantiveram-se as estruturas e as abordagens à liderança eclesiástica. Nós, os Baptistas, que nos consideramos descendentes (ou pelo menos primos) do ramo mais radical da Reforma, gostaríamos de reclamar que, na nossa reforma, fomos para além dos Protestantes mais tradicionais para uma eclesiologia mais perto da igreja primitiva. Mas, de facto, isso não se verifica ao longo dos anos. A nossa estrutura e estilo de liderança normalmente reflecte mais o âmbito cultural e político em que nos encontramos do que qualquer modelo bíblico. Tendemos a ir buscar as nossas dicas para a gestão da igreja ao mundo da gestão de empresas, mais do que à Bíblia.

Mas mesmo este recurso à gestão empresarial hoje em dia é capaz de nos dirigir novamente ao exemplo de Jesus. Em 1977, Robert K. Greenleaf, um perito na gestão de empresas, publicou uma colectânea de artigos num livro com o título, “Liderança Serva”. A conclusão de Greenleaf, fruto da sua reflexão e observação ao fim de uma carreira como consultor organizacional numa das maiores empresas dos Estados Unidos, foi que há uma mudança cultural a acontecer que se verifica nas atitudes e opiniões acerca da autoridade e do poder. Nesta nova ética, a única autoridade que merece a submissão das pessoas é a autoridade reconhecida livremente em resposta à estatura de servo do líder. Aqueles que aceitam este princípio não aceitarão facilmente a autoridade de instituições existentes, diz Greenleaf, mas, ao contrário, responderão apenas àqueles indivíduos eleitos como líderes porque já se provaram como servos. A essência da liderança, segundo Greenleaf, é o desejo de servir aos outros e a uma causa maior que nós próprios.[2]

Dificilmente se pode medir a influência do Greenleaf e das suas ideias no campo da gestão ao longo dos últimos 25 anos. Muitos dos autores mais reconhecidos nesta área consideram-se discípulos do Greenleaf. Ele continua a ser citado, e mesmo quando não é citado, o conceito da liderança serva surge. Num estudo mais empírico, o investigador Jim Collins analisou o funcionamento de 25 empresas que ultrapassaram dramaticamente o empenho da competição nos seus respectivos mercados. A primeira característica em comum que Collins e a sua equipa reconheceram foi o que ele chama “Liderança do Nível 5”.[3] Cada uma destas empresas bem sucedidas foi liderada por uma pessoa cuja personalidade combinava uma força extraordinária de vontade profissional e uma qualidade extraordinária de humildade. Estes líderes investem a energia no sucesso dos outros e do empreendimento, acima do sucesso próprio—líderes servos!

Steven Covey, autor do livro “7 Hábitos de Pessoas Altamente Eficazes,” e um dos autores mais influentes no mundo empresarial, comentou no prefácio da edição do 25º aniversário do Greenleaf que o movimento a favor da liderança serva em todo o mundo é o resultado de duas forças poderosas. Primeiro, a globalização dos mercados e da tecnologia cria um ambiente que exige um alto nível de qualidade a um custo reduzido. Estes só podem ser atingidos através da delegação de poder e autoridade nas empresas, o que exige confiança e serviço da parte dos líderes. A segunda força, diz Covey, é a nova descoberta de princípios universais e eternos, e do valor da autoridade moral:

A autoridade moral ganha influência através da aplicação de princípios. O domínio moral atinge-se através do serviço e do contributo. O poder e supremacia moral surgem da humildade, quando o maior de todos se torna o servo de todos. A autoridade moral atinge-se através do sacrifício.[4]

Autores como Covey e Greenleaf utilizam os princípios e, por vezes, até as palavras de Jesus para falar sobre a liderança eficaz no mundo actual. James Hunter, outro autor e consultor de empresas até afirma, num livro secular e dirigido a gestores de empresas, que Jesus foi o líder mais eficaz da história. Baseia a sua conclusão no facto de que, embora houvessem outros líderes contemporâneos com muito mais poder político, a influência de Jesus ultrapassa qualquer um deles, e qualquer outro líder da história. Dois mil milhões de pessoas se consideram Cristãos, dois dos nossos principais feriados (natal e páscoa) comemoram eventos na vida dele e, dois mil anos depois da sua vida, o nosso calendário ainda conta os anos desde o seu nascimento. Se a liderança é a influência, diz Hunter, não há nenhum líder da história que se aproxime a Jesus.[5]

Não sei como o irmão reage, mas quando eu vejo este tipo de afirmações a sair do mundo secular e empresarial, levantam-se várias questões incómodas na minha mente:

Se o sector da nossa sociedade mais virado para o lucro e a competição brutal e fria está a descobrir o poder verdadeiro da liderança serva, como podemos nós, os seguidores de Jesus e herdeiros do reino, continuar a entrar em jogos de poder uns com os outros?
Se empresários estão a descobrir, aos poucos e com muito esforço e pesquisa, os princípios da liderança serva que Jesus propus, como podemos nós, possuidores da revelação divina—chamados, habitados e habilitados pelo Espírito de Deus—não explorar apaixonadamente as riquezas do exemplo de liderança que Jesus nos deu?
Se indústrias inteiras estão a ser transformadas por movimentos descentralizados de serviço e sacrifício, como podemos nós, os comissionados por Jesus para fazer discípulos de todo o mundo, continuar a abordar a nossa tarefa com métodos centralizados, controlados e localizados?

A globalização para o mundo empresarial representa um grande desafio e uma grande oportunidade. A globalização para a Igreja de Cristo representa um grande desafio e uma grande oportunidade. O mundo empresarial está a responder, adaptando-se, ajustando-se e aprendendo que, com uma atitude de serviço e sacrifício, se pode ganhar o mundo. Será que a igreja fará o mesmo? As empresas estão a mudar porque a sua própria sobrevivência está em jogo. As igrejas também podiam dizer o mesmo, mas temos uma razão maior e mais importante. Das últimas imagens que temos do nosso Senhor antes da sua crucificação é a forma de um servo, ajoelhado, com uma bacia e uma toalha, a lavar os pés dos seus discípulos, e a dizer, “É assim que se lidera o meu povo!”

Líderes servos precisam-se...já! Estaremos à altura?

Primeiro queremos saber o que é, e como se realiza a liderança serva....

Seis elementos da liderança serva, vistos não na prática contemporânea da gestão de empresas, mas na vida do líder mais eficaz da história ... em contrapartida com a liderança natural. (Não é uma lista exaustiva, mas é um início.)

I. A Essência da Liderança Serva: Influência (vs. Gestão)

Quando Jesus abordou os seus futuros discípulos à beira do mar, ou no campo, ou à mesa de cobrança de impostos, a proposta que ele lhes dava não era um contracto formal com clausulas que comprometiam o discípulo a seguir as orientações do mestre, a obedecer em qualquer lugar a qualquer hora qualquer mandado que Ele lhes desse. Ao contrário, o convite era sempre o mesmo, e sempre muito simples: “Siga-me”. E a caminhada que eles começavam naquela altura não lhes levou a um programa sistemático de formação, nem a um percurso sistemático de carreira. Foi uma caminhada em que a influência de Jesus nas vidas deles era cada dia maior e mais poderosa.

Um dos primeiros erros que se comete no pensamento acerca da liderança é que a liderança é, no fundo, a gestão das pessoas. De facto, a gestão é algo que não se faz com as pessoas. Podemos gerir recursos. Podemos gerir projectos. Podemos gerir imobiliária. Mas quem tenta gerir pessoas está a lidar apenas com a pessoa do pescoço para baixo …as mãos, os pés, as actividades e talvez, até as palavras. Mas a mente e o coração não pertencem ao gestor.

A liderança verdadeira é bem mais do que isso. A liderança verdadeira é influência. É a capacidade de motivar e inspirar as pessoas a darem-se corpo, mente e alma a uma causa que consideram digno do maior sacrifício. Foi esta a liderança de Jesus, e é a liderança que nós temos de exercer.

Bill Hybels afirma que a igreja é a organização que depende mais da liderança verdadeira que qualquer organização no mundo.[6] Dependemos dos recursos que as pessoas oferecem da livre vontade. Se as pessoas não têm a vontade de aparecerem, nada acontece. Não há contractos nem obrigações. Tudo que acontece depende da nossa influência com as pessoas. O líder Cristão que vê a sua função principalmente como uma função de gestão, mais cedo ou mais tarde acaba por estar a gerir o ar.
A liderança serva é, na sua essência, influência.



II. O Recurso da Liderança Serva: A Autoridade (vs. Poder)

Outra distinção que devemos fazer é entre os conceitos da autoridade e de poder. James Hunter fornece definições úteis destes dois conceitos:

Poder: A capacidade de forçar alguém, através da coerção, para cumprir a minha vontade, mesmo que eles não queiram, por causa da minha posição ou força superior.

Autoridade: A habilidade de conseguir que as pessoas cumpram a minha vontade, sem coerção, por causa da minha influência pessoal.[7]

Na época de Jesus, havia muitas pessoas com mais poder aparente para a coerção do que ele próprio. Os governantes tinham o poder militar e político. Os fariseus tinham o poder cultural. Os Sacerdotes tinham o poder religioso. Todos estes tinham o poder da coerção por causa das posições, ou ofícios, que eles ocupavam. Mas, o que não tinham era a autoridade que fluía da influência das suas vidas.

Jesus, um mestre pobre e itinerante, sem posição nem ofício algum, conseguiu mobilizar multidões de seguidores, muitos dos quais chegaram a entregar a própria vida ao seu serviço, sem qualquer recurso ao poder coercivo. As pessoas cumpriam a sua vontade por causa da autoridade, e não por causa do poder.

É um erro muito grave assumir que, na obra do Senhor, podemos funcionar a partir de poder que decorre da posição. A liderança serva não recorre ao poder. O seu recurso principal é a autoridade que tem as suas raízes na influência pessoal.

III. A Agenda da Liderança Serva: As Pessoas! (vs. Projectos)

Uma das características do ministério de Jesus que mais me incomoda é a aparente e total ausência de projectos. Jesus não deixou nenhuma associação registada no Registo Nacional de Pessoas Colectivas, não colocou nem um tijolo em cima de outro num projecto de construção, não fundou nenhuma instituição, não escreveu nenhum panfleto para expor os seus pensamentos e não organizou, nem revisou, nenhum currículo para a formação de líderes. Ele tinha, sim uma missão a cumprir—e cumpriu! Ele tinha uma mensagem a proclamar—e proclamou. Mas o único projecto que ele alguma vez anunciou foi o projecto que prometeu realizar na chamada dos seus discípulos: Sigam-me, e eu farei de vós pescadores de homens! A agenda de Jesus era sempre pessoas.

E quando Ele nos comissionou, não nos enviou para o mundo com a tarefa de fundar instituições, ou de construir templos, ou de organizar associações. Enviou-nos com um só projecto: Ide, e fazei discípulos de todas as nações. A agenda da liderança serva é pessoas.

Uma agenda centrada nas pessoas terá, necessariamente, pelo menos duas características distintas. Primeiro, o impulso motivador será o amor. Não estamos a falar de carinho, nem de amizade, nem de sentimentos fortes a favor de outra pessoa. Este amor é a opção consciente a favor das necessidades daqueles que estou a liderar. Este amor busca o sucesso dos liderados acima do sucesso do líder. Coloca os outros sempre em primeiro lugar. A segunda característica necessária quando a agenda é pessoas é a prioridade dada aos relacionamentos. É impressionante como Jesus, com tantas tarefas exigentes e com uma missão tão importante, tinha sempre a disponibilidade de ouvir e responder à pessoa que estava à sua frente em qualquer momento. Esta qualidade só era possível porque Jesus não apenas colocava as pessoas na sua agenda. A sua agenda era mesmo as pessoas!

A nossa tendência normal é de dizer, “vamos responder às necessidades das pessoas com projectos”. Mas o que acontece muitas vezes é que os projectos acabam por ficar com o primeiro lugar, e as pessoas ficam em segundo plano. A agenda da liderança serva é pessoas!

IV. O Princípio Organizacional da Liderança Serva: Delegação (vs. Controlo)

Agora precisarei de esclarecer uma questão de vocabulário. A palavra que tenho em mente quando falo de “delegação” é uma palavra para a qual ainda não encontrei equivalente em Português. Mesmo os livros escritos em Português por Portugueses tendem a usar a palavra Inglesa para se referir ao conceito que nós chamamos “Empowerment.” Implica não apenas a delegação de tarefas, mas também a delegação de autoridade, a delegação de capacidade de tomar decisões, a delegação dos recursos, a delegação do poder. Este é o princípio organizacional que Steven Covey disse que a globalização está a exigir de nós. Um princípio que requer confiança, paciência e graça, e que, penso eu, é uma qualidade indispensável da liderança serva.

Em Mateus 10, Quando Jesus enviou os 70 para proclamar a mensagem do Reino dos Céus, como é que ele organizou o empreendimento? Criou uma estrutura hierárquica com vice presidentes e gestores intermediários para assegurar que quem teria a opção final em cada decisão seria ele próprio? Estabeleceu um sistema de comunicação que facilitasse os discípulos ao enfrentarem qualquer decisão de natureza estratégica ou prática, e que assim pudessem buscar a autorização do líder? Fez um sistema de comissões e conselhos para deliberar sobre cada assunto para que houvesse sempre consenso? Não fez nenhuma destas coisas. Deu-lhes orientações específicas daquilo que deviam fazer, e enviou-os, dois a dois, para cumprir a missão, voltando depois para partilhar o que tinha acontecido. Porque é que Jesus não criou um sistema mais eficaz de controlo de qualidade da obra? Penso que podemos apontar para, pelo menos, duas razões: Primeiro, ele sabia que, ao fim de três anos, a obra estaria nas mãos desses discípulos. Tinham de aprender rapidamente a tomar as decisões necessárias para a obra andar para frente. Portanto, Jesus nunca criou um sistema que exigia que pedissem autorização. O controlo estava nas mãos dos discípulos, seguindo as suas orientações gerais e, mais tarde, as orientações do Espírito Santo. Segunda razão, o objectivo de Jesus não era uma organização bem controlada. Era, sim, um movimento explosivo. E um movimento explosivo não pode acontecer num ambiente de controlo institucional.

Portanto, Jesus delegou, tanto as tarefas, como a autoridade, o poder, os recursos e as decisões aos seus discípulos. Com orientações gerais? Sim! Com a prestação final das contas? Claro! Mas a obra estava nas mãos dos seguidores. Nem sempre correu bem. Mas quando surgiam problemas que eles não podiam resolver, ele lidava com a situação com graça, aproveitando a oportunidade para ensinar mais uma lição importante.

O mundo de hoje em dia fornece grandes oportunidades para o crescimento explosivo do Reino. Mas isso só acontecerá se estivermos dispostos a pôr em prática o princípio organizacional da liderança serva: Abrir mão do controlo, confiar nos seguidores e no Espirito Santo e delegar tarefas, poder, autoridade, recursos e decisões.

V. O Alvo da Liderança Serva: Transformar (vs. Vencer)

É interessante reparar que, quando Jesus falava do impacto do Reino dos Céus no mundo, não usava imagens de guerra ou de conquista. Usava imagens da agricultura (grau de mostarda) ou da cozinha (fermento). O movimento que Jesus liderou não foi nunca um ataque frontal. Foi sim uma presença subversiva, um ingrediente transformador, uma força irresistível que acabou por transformar a sociedade inteira sem batalhas nem confrontos.

Este princípio teve algumas consequências muito práticas na estratégia da liderança de Jesus. Ele não facilitava a entrada das pessoas, e não impedia a saída. Mesmo ao nível pessoal, o objectivo dele não era de vencer, mas, sim, de transformar. O mancebo rico teria sido uma grande conquista, mas Jesus dificultou-lhe o caminho de tal maneira que virou as costas e foi-se embora triste. Outros que o queriam seguir foram confrontados com obstáculos como a pobreza (o filho do homem não tem onde se deitar), o compromisso a longo prazo (quem olhar para trás não é digno...), a quebra da família (que os mortos enterrem os mortos ...). E quando a multidão se tornava grande demais, Jesus pregava um sermão tão duro e exigente que a maioria desistia do caminho. Porquê? Porque Ele só queria investir naqueles que podiam dizer, “Deixar de te seguir? Para onde iríamos? Tu é que tens as palavras da vida!”

O alvo de Jesus não era a conquista. Era, sim, a transformação. Buscava aqueles que estavam mesmo desesperados, prontos para entregar a vida, e investia-se neles, para que chegassem a ser a semente de mostarda que chegou a ser uma árvore enorme, ou o fermento que transformou o pão inteiro.

VI. O Fim da Liderança Serva: O Sacrifício (vs. Lucro, conforto, fama, etc.)

Quando Jesus tinha acabado de lavar os pés dos discípulos, levantou-se do chão, vestiu-se, saiu daquela sala e daquele convívio caloroso, e entregou a sua vida numa rude cruz. A liderança serva não promete conforto, fama, facilidade de vida. Quando seguir-mos o caminho de Jesus mesmo até ao fim, chegaremos sempre à cruz. O fim da liderança serva é o sacrifício.

Uma das coisas que se verifica na história das missões é o facto de que, em cada época de avanço dramático no movimento moderno de missões, o avanço foi sempre acompanhado por um movimento estudantil...uma geração de jovens dispostos a dar tudo pela causa de Cristo no mundo. Em 1716, um jovem estudante de Halle, chamado Nicola von Zinzendorf formou um grupo de alunos chamado a “Ordem do Grão de Mostarda,” com a visão de levar o evangelho ao mundo. Mais tarde, este compromisso levou-o a liderar o movimento dos Morávios, que foram, a grande preço e sacrifício, levando a mensagem de Cristo a terras que ainda não conheciam o nome de Jesus. Em Suriname, por exemplo 75 dos primeiros 160 missionários morreram no espaço de dois anos devido a doenças. Mas continuaram a avançar, custasse o que custasse. A liderança serva marcou a diferença, mas pagaram um alto preço.

Irmãos, creio de todo o meu coração que temos perante nós, hoje em dia, uma geração que terá a oportunidade, as condições e a disposição de realizar a grande comissão numa medida que o mundo ainda não viu. E quando penso nos anos que me restam para servir o Senhor neste mundo, a única coisa que quero ser é um recurso para esta geração. É esta a nossa missão como escola. É esta a chamada urgente de Deus para os nossos dias.

Mas, o que temos de ser, e o que termos de produzir são líderes servos. Líderes que vão para além da mera gestão de recursos para ter uma influência profunda no mundo à sua volta. Líderes que não funcionam a partir do poder da sua posição, mas da autoridade do seu carácter. Líderes cuja agenda e projecto principal não são instituições, edifícios e organizações, mas pessoas, criaturas de Deus, que se encontram no dia a dia, mas que também se encontrarão na eternidade. Líderes que sabem abrir mão do controlo dos seguidores para que o ministério se possa multiplicar. Líderes cujo alvo não é apenas vencer, mas, sim, ver a transformação do mundo pela graça e pelo espírito de Deus. Líderes comprometidos a percorrer o caminho todo, sabendo que só se chegará à alegria da glória através do sofrimento da cruz.

Nem todos os nossos alunos serão pastores. Mas o nosso objectivo como escola deve ser que todos sejam líderes servos!
[1] Muitas destas ideias são apresentadas no seu livro, The Second Reformation: Reshaping the Church for the 21st Century, (Houston:Touch Publications, 1995). Outro livro que inclui uma discussão interessante sobre o assunto é Wolfgang Simson, Casas Que Transformam o Mundo: Igrejas nos Lares (Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2001).
[2] Robert K. Greenleaf, ServantLeadership: A Journey into the Nature of Legitimate Power & Greatness (Mahwah, NJ: Paulist Press, 2002), 24.
[3] Jim Collins, Good to Great (New York: Harper Collins, 2001), 16-24)
[4]Steven Covey. “Forword” in Robert K. Greenleaf, ServantLeadership: A Journey into the Nature of Legitimate Power & Greatness (Mahwah, NJ: Paulist Press, 1977), 11.
[5] James C. Hunter, The Servant: A Simple Story About the True Essence of Leadership (New York: Crown Business, 1998), 77.
[6] Bill Hybels, Courageous Leadership (Grand Rapids: Zondervan, 2002), 24-25.
[7] James. C Hunter, The Servant, 30.

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